sábado, 30 de março de 2013

No útero do tempo

O tempo não quebrou
assim como a pedra
sorri quase eterna.

O tempo não andou
assim como o vento
almoça o cimento
e rege a relva.

Ian Viana, janeiro de 2013

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Evocação

Procurando faminto os lábios da enseada,
esses larápios das dores selváticas de estrada.

Ian Viana, 08 de novembro de 2012

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

No útero do ano II

No inculto mangue da vossa consciência
excrescências de fim de ano fecundado,
enquanto trouxas brincam de sonhar
– com sangue –
a concretude do tempo inquebrantável.

Ian Viana, dezembro de 2012

sexta-feira, 3 de agosto de 2012

Litígio

Sono:
revolta do corpo que se cansa
de tanta cabeça.
E a cabeça, por vingança,
inventa sonho e travesseiro e deixa
o corpo
– que é tudo e é pouco –
entregue ao quimérico repouso do esteio,
à mente de sotílego calabouço.

Ian Viana, 01 de junho de 2012

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Renomar

Não pretendo chegar a mar
mas quero o estrago, a serenidade e o marulhar eternos
dessa selva de prantos.
Quero estar em constante lavar, larvar:
abismo ígneo – maiúscula água,
músculo aéreo – eterno desterrar.

Quero frente, ficar;
sem precisar roupa nova,
riso penteado,
revisada a unha, o espelho,
prolixo o sapato.

Quero tudo estrangeiro, tudo
substrato e meio;
o estranhar-se perene desse rio desgrenhado
de coices e afagar.
Quero tudo quase mudo – mar-basalto;
quero surdo o riso, o insulto – cobalto
a ondular em sal nas paredes etéreas do meu quarto.

Ian Viana, 13 de junho de 2012

quarta-feira, 27 de junho de 2012

Janeiro

Enquanto os cabelos do céu despenteavam-se:

O som senil do mar flertava
Com o tempo de pernas curtas
E convulsa música de sal sussurrava
Às esmeriladas artérias de sol fulvas.

Ian Viana, junho de 2012

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Sofizmarulho

Dia desses,
Feito lua túrgida
Me propus sofismar.
Mas malogrei:
Só fiz mar.

Ian Viana, 29 de fevereiro de 2012