quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Pintura

No Saco, o mar anda colecionando
Postes, arames e figuras de céu.
O vento, lá, discursa arrebóis
E anedotas,
Enquanto a água bebe
                       Vagarosa
O mar.

As pedras, elas embaraçam o riso
Dessa mesma sedenta água
(Agora ejetada, una, lúcida – alada)
E o sol, que tem por predileto o beijo
Da enseada,
Lentamente galga a metálica escada
Do lusco-fusco...

Aí se acaba o compromisso das gaivotas
E as nossas pálpebras abraçam
O decalque de imagens registradas
A guache:
A fotografia a alma invade
Depois de abertas as comportas
Da tesa saudade.

Ian Viana, 02 de outubro de 2011

sábado, 5 de novembro de 2011

Haicai em Branco

Hoje despintei nenhuma poesia.
Apenas rabisquei a parede
Com o incolor do dedo.

Ian Viana, 04 de outubro de 2011

sábado, 15 de outubro de 2011

Após um Sonho Manoelesco

                          (Muito humildemente ao mestre Manoel de Barros)

O meu sono carece de concentração.
A toda hora o sol apita querendo exibir o seu halo
Impossível de divisar.
Hoje mesmo ele inventou de fazer
Dissertação de luz em minha testa.
Apesar das minhas pálpebras usarem cobre,
Tive que assumir os apetrechos de ver.

A luz, sem pestanejar,
Gozou uma glória em meus lençóis.

Ian Viana, 04 de outubro de 2011

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Nu Ocaso

Não se pode preterir a infância das árvores
Nem desflorar o canto nos olhos das aves.
Muito menos tornar tíbio os timbais das cigarras
Ou o queixume do crepúsculo que se vai,
Pois a tarde veloz, numa só cortês voz,
Inventa a boniteza das coisas
Numa coleção gradual descomunal de espantos.

Ian Viana, 10 de agosto de 2011

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Haicai

o osso da lua
diz molezas
quando é dia

Ian Viana, agosto de 2011

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Cora-se o Amor

Escarlate púrpuro,
Rubro escarlate,
O coração que late
Em rubor vermelho,
Em vermelho púrpuro,
É o coração que ama.

Mas por que ama
Apenas o ruborizado coração,
Se o amor,
De tão sangue que é,
Pode pintar-se de qualquer cor,
Pode tingir-se no tom que lhe convier?

Ian Viana, 18 de maio de 2011